Há muito tempo estou para escrever esta mensagem, mas sempre tive muito
temor em função de ser um assunto bastante delicado e controverso. Não queria
me posicionar, e muito menos deixar registrado, uma posição diferente daquela
praticada na maioria das igrejas sem que estivesse respaldo por outros líderes
reconhecidos na igreja mundial. Assim, desta forma, gostaria de afirmar que esta
não é uma teologia “do Patrick”, mas tem o aval de muitos líderes de
proeminência dentro do cenário eclesiástico mundial.
Por muito tempo em minha vida fiquei me perguntando como deveria
funcionar a estrutura de autoridade e governo na igreja. Lia uma coisa na
Bíblia e via várias práticas na igreja que, na grande maioria das vezes, era
completamente diferentes daquilo que via nas Escrituras. Nunca consegui me
alinhar com as práticas correntes das igrejas, pois não via correlação com a
Palavra de Deus. Desta forma me dediquei muito a estudar este caso. Pesquisei
incansavelmente. Busquei posicionamentos diversos. Trouxe vários livros de
autores diferentes de toda parte do mundo. Li toda literatura que encontrei.
Assim, aquilo que passarei a escrever é um compêndio do assunto em questão.
Sei que de alguma forma já tenho sido contestado por alguns
posicionamentos que tenho tomado até então. Também sei que a partir de agora
ainda maiores controvérsias surgirão. Porém meu compromisso não é com a
tradição e muito menos com alguma instituição, mas com Deus e com a restauração
de sua igreja.
O conteúdo deste tema será desenvolvido nesta e nas próximas edições
para que se possa desenvolver na completude a abrangência deste assunto.
Cobertura Espiritual
Nas duas últimas décadas uma prática tomou conta das igrejas. A prática
da “cobertura espiritual”. Esta prática não era conhecida até o surgimento das
igrejas independentes na década de 1970. Para que estas igreja independentes
não ficassem a mercê unicamente de seu líder máximo, e para
que houvesse proteção do pastor, dos membros da igreja local (independente) e,
de forma geral, da igreja global (evitando escândalos e desvios), foi criada
uma forma de segurança através da cobertura espiritual a quem aquele líder ou
igreja se submete. Nas denominações tradicionais por muito tempo não se falou
sobre este assunto, a ainda não se fala em muitas delas, pois a questão da
cobertura espiritual está intrincica nas linhas de governo e autoridade da
denominação.
Porém a prática de “cobertura espiritual” se multiplicou, criando várias
formas e conceitos, indo de uma cobertura espiritual apenas verbal e formal até
uma prestação de contas minuciosa, tendo que o discípulo prestar conta dos
mínimos detalhes de sua vida a sua “cobertura”. Começaram a surgir variáveis
como cobertura para igreja e cobertura para pessoa. Muitos pastores hoje tem
até três “cobertura espirituais“. Uma cobertura pessoal, outra para o modelo de
igreja que escolheram seguir e outra a denominação a que pertencem.
A “cobertura espiritual”, na própria semântica da palavra, contém a compreensão
de proteção. O entendimento é que toda pessoa que se encontra debaixo de uma
“cobertura espiritual” está automaticamente debaixo de proteção. A cobertura
funcionaria como um guarda-chuva de proteção contra os ataques e ciladas do
inimigo.
Mesmo que no conceito de “cobertura espiritual” esteja a idéia de
submissão e prestação de contas a uma autoridade espiritual, na prática isto
não tem funcionado desta maneira. A grande maioria tem falado que está debaixo
de uma certa “cobertura espiritual”, porém não tem nem sequer tido contato por
um longo período de tempo com esta pessoa, muito menos se submetido a sua
orientação e a prestação de contas.
A “Cobertura Espiritual” na Bíblia
Depois de muito tentar encontrar na Bíblia um exemplo que avalizasse a
“cobertura espiritual” como a conhecemos hoje, nada encontrei. Por incrível que
pareça não existe nenhum exemplo bíblico daquilo que chamamos hoje de cobertura
espiritual. Existem sim, muitos exemplos de discipulado (Moisés e Josué, Elias
e Eliseu, Jesus e os 12 apóstolos, Paulo e Timóteo, entre outros), porém não há
exemplos de “cobertura espiritual”. Busquei então em autores que escreveram
sobre este assunto para ver se estava equivocado, porém nenhum conseguiu
explicar a pratica moderna de “cobertura” através de um exemplo bíblico.
Enquanto no discipulado o discípulo é levado a seguir o modelo de seu
mestre (discipulador), a “cobertura espiritual” tem apenas uma conotação de
proteção e não segue a essência do discipulado, ou seja, a imitação de um
modelo (Fp 3:17).
Historicamente tem se visto que a igreja tem desenvolvido sistemas alternativos
para solucionar carências em alguma área da igreja. As organizações
para-eclesiásticas tem se desenvolvido exatamente neste mercado. Alternativas
tem sido desenvolvidas para tapar a brecha daquilo que tem sido negligenciado
pela igreja.
Creio que o modelo de igreja desenvolvido por Deus é completo em si
mesmo. Quando se mexe no modelo estabelecido por Deus, como tem acontecido
através dos séculos, é necessário desenvolver alternativas paralelas para que o
sistema venha a funcionar. Assim são incorporados apêndices na igreja para
tornar viável seu funcionamento. Não sou contra as estruturas
para-eclesiásticas, pois graças a elas chegamos onde estamos. Porém precisamos
caminhar para o modelo de igreja neotestamentária.
A cobertura espiritual se tornou uma destas invenções. Graças a Deus
pela “cobertura espiritual”, pois apesar dela ser uma disfunção bíblica, ela
veio resolver uma situação causada por outra disfunção bíblica, igrejas e
pessoas independentes. Nem uma e nem outra seguem o modelo bíblico.
A Limitação da “Cobertura Espiritual”
Na realidade aquilo que chamamos de cobertura espiritual é uma
pequeníssima parte de um verdadeiro discipulado. Jesus não nos chamou para
darmos ou termos cobertura, mas para sermos e fazermos discípulos. Analisemos a
raiz da palavra cobertura através de um exemplo. Numa guerra um soldado pode
pedir a outro que lhe dê “cobertura” enquanto faz uma investida no campo do
inimigo. O seu colega que o cobre, na verdade o irá proteger. Mas a pergunta é:
o soldado que está sendo protegido está fazendo a coisa certa? Quem garante que
esta é a melhor estratégia? Foi decisão dele ou alguém lhe deu ordens para
fazer aquilo daquela forma? E ainda mais, se por algum motivo qualquer ele se
expor, mesmo que esteja sendo coberto, estará ele protegido e seguro?
Trazendo para dentro da igreja, “cobertura espiritual” não é sinônimo de
segurança, pois mesmo que se esteja debaixo de cobertura, pode se estar fazendo
a coisa errada de forma errada, ou fazendo a coisa certa de forma errada, ou fazendo
a coisa errada de forma certa, pois a cobertura não tem o objetivo de dar
direção, mas proteção, pois a própria semântica da palavra traz esta conotação.
Isto significa que uma pessoa pode estar sob cobertura espiritual, e ao mesmo
tempo pode estar agindo de forma equivocada, perdendo seu tempo, não produzindo
resultados e sendo destruída. Como no exemplo do soldado sendo protegido, a
cobertura apenas garante uma limitada segurança contra algum inimigo que é viso
e percebido pela cobertura, mas não dá garantia de se estar trilhando o caminho
correto.
Cobertura ou Fundamento?
Quando a chuva cair, os rios transbordarem e os ventos sobrarem, não
adianta termos um bom telhado (cobertura) em uma casa para que ela não caia,
mas como a palavra de Deus diz, temos que ter um bom fundamento. A maior
proteção que uma pessoa pode ter para que tenha estabilidade, é estar
alicerçada sobre um bom fundamento (Mt 7:24-27). O fundamento por si só faz o
trabalho de proteção contra as muitas águas, os fortes ventos e as tempestades,
circunstâncias estas criadas pelo inimigo para destruir nossas vidas. O
fundamento é que traz a segurança e proteção que a maioria dos cristãos espera
encontrar em uma “cobertura”. Se quisermos ser vencedores temos que correr
desesperadamente atrás de um bom fundamento e não atrás de uma boa cobertura.
A “Cobertura Espiritual” como fonte de altivez
Hoje se tem falado muito sobre “cobertura espiritual”. Porém,
infelizmente, no meio daqueles que são sinceros, honestos e querem
verdadeiramente ser obedientes a Deus, há alguns que querem alguém com quem
possam se aliançar e, através desta aliança, alcançar projeção e visibilidade
no meio eclesiástico. Querem que suas “coberturas” sejam pessoas famosas e de
prestígio, para serem vistos com aqueles que são importantes. Outro dia ouvi
falar de um caso onde um pastor estava desesperadamente querendo conhecer
aquele que por muitos anos ele dizia ser sua cobertura.
Por outro lado também tenho visto pessoas oferecendo “cobertura
espiritual” como se fosse um negócio, para poderem dizer aos outros que tem uma
grande quantidade de pessoas debaixo de sua “cobertura”, o que os tornam mais
importantes e influentes. Transformaram o amor num negócio. De fato, a questão
de “cobertura espiritual”, em muitos casos, tem se tornado um meio de expressar
soberba, altivez, orgulho e arrogância. Não foi este o plano de Deus para a
arquitetura das linhas de autoridade na igreja.
A construção da igreja (e de nossas vidas) deve ser
baseada num projeto
Se quisermos edificar uma casa de forma segura, correta e que subsista
ao tempo temos que buscar engenheiros e arquitetos que farão um projeto e nos
darão sábias orientações que servirão de base para construirmos. Da mesma forma
quanto a igreja. Se quisermos edificar a igreja de forma correta e segura e que
subsista as intempéries espirituais temos que seguir a orientação de exímios
arquitetos ou construtores espirituais. Não basta termos um bom telhado
(cobertura) para que uma edificação subsista ao tempo. Temos que ter um bom projeto.
Temos que ter uma boa base.
Deus deu capacitação sobrenatural a algumas pessoas para serem estes
arquitetos espirituais de sua igreja, ou seja, pessoas dotadas com aptidões
espirituais para fazerem o projeto e darem orientações sábias que sirvam de base
para se edificar a igreja. Se não tivéssemos pessoas com estes dons na igreja,
estaríamos em sérios problemas, pois cada um construiria conforme seu
pensamento, sem sabedoria e entendimento, o que resultaria em uma igreja
edificada de forma irresponsável que não suportaria aos terremotos da vida.
Quem são os arquitetos espirituais da igreja?
O apóstolo Paulo escreveu que “segundo a graça de Deus que me foi
dada, lancei o fundamento como prudente
construtor; e outro edifica sobre ele” (I Co 3:10). A palavra
grega traduzida como construtor é ARCHITEKTON, de onde deriva a palavra
arquiteto. Um arquiteto é uma pessoa cuja profissão é preparar projetos para
edificações e exercer a superintendência geral em sua construção. Um arquiteto
faz projetos de estruturas complexas, e orienta como edificá-las. Ele planeja e
constrói para alcançar resultados desejados. Ele faz projetos e tem estratégias
definidas em como construir.
Paulo se auto identificava como um arquiteto espiritual. Ele reconhecia
que não era apenas um simples arquiteto, porém, como escreveu, ele se
intitulava como sendo um prudente arquiteto. A palavra grega usada para
prudente significa alguém perito em sua atividade. Uma pessoa experiente e
sábia naquilo que faz. Isto significa que Paulo tinha aptidões diferenciadas
dadas por Deus (dons) para estabelecer as bases arquitetônicas da igreja.
Aquilo que Paulo ensinava era um projeto espiritual com as devidas estratégias
para edificação da igreja. Seus ensinamentos explicavam como Paulo, através de
seus atributos especiais, ou seja, através da graça que Deus lhe havia
concedida, recebera revelação e havia concebido a igreja. Os ensinamentos
apostólicos eram projetos espirituais com suas devidas estratégias para trazer
a cabo estes planos. Esta é uma das principais funções apostólicas.
Quem quiser andar num modelo verdadeiramente bíblico precisa estar
construindo sobre as bases apostólicas. São os apóstolos que receberam a função
e os dons necessários para estabelecerem os fundamentos, ou seja, as bases
arquitetônicas da igreja. Quem construir fora destas bases estará fora da
concepção de funcionamento que Deus fez para sua igreja. A segurança está em
construir sobre as bases corretas e não apenas ter a cobertura correta. Desta
forma, a verdadeira “cobertura espiritual” é construir sobre os
fundamentos apostólico-proféticos.
Como visto nas edições anteriores, quando se fala em “cobertura
espiritual” sobretudo fala-se em fundamento apostólico. “Cobertura espiritual” sem
entendimento claro do que é “fundamento apostólico” é como querer construir uma
casa sem que se saiba o que é o alicerce. A Bíblia diz que “com a sabedoria
edifica-se a casa, e com a inteligência ela se firma” (Pv 24:3). Na
Bíblia a casa é figura da vida de uma pessoa ou da igreja. Tomando este verso
de Provérbios pode-se dizer que para se edificar a vida de uma pessoa ou para
se edificar uma igreja local é necessário sobretudo de sabedoria e não somente
boas intenções.
Toda estrutura de uma casa depende de seu fundamento. Quanto mais forte
o fundamento maior a possibilidade de se edificar um grande edifício sobre ele.
Quem constrói sem fundamento é como se estivesse construindo sem alicerces.
Logo quando soprarem os ventos a casa cairá.
Por isso a Bíblia dá tanta ênfase ao fundamento, pois dele depende toda
estrutura de uma “casa”. Se uma pessoa ou uma igreja não está bem fundamentada,
ela não tem estrutura para suportar as dificuldades que virão, nem terá
capacidade de crescer para se tornar uma grande obra.
O que é o Fundamento na Bíblia?
Se quisermos receber ou dar o que se chama hoje de “cobertura
espiritual” para edificarmos a vida de pessoas e igrejas locais temos que
ter em mente muito claramente de que se constitui o fundamento. Ao observarmos na
Palavra de Deus, vemos que o fundamento é constituído de vários componentes:
Jesus é o fundamento. I Co 3:11 diz: “porque ninguém pode lançar
outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo”.
Jesus é o fundamento da igreja. A construção de uma casa (vida ou igreja)
começa pelo fundamento. Nos tempos bíblicos, a pedra angular era a primeira
pedra colocada em um vértice do fundamento de um prédio e esta pedra tornava-se
o referencial para construção de toda edificação. Toda construção partia desta
pedra. Todas medidas partiam desta pedra. Ela era o início e a base de tudo. A
bíblia nos diz que “ele mesmo, Cristo Jesus, é a pedra angular” (Ef
2:20, I Pe 2:7).
Doutrinas Básicas fazem parte do fundamento. Hb 6:1-2 nos diz:
“deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição,
não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras
mortas e de fé em Deus, e da doutrina dos batismos, e da imposição das mãos, e
da ressurreição dos mortos, e do juízo eterno.” Existem certas
doutrinas básicas que fazem parte de nosso fundamento. Estes ensinamentos são
básicos e não podem ser removidos da base da igreja. Ninguém tem o direito de
mexer ou retirar algum deles com o risco de toda casa cair.
Os Apóstolos e Profetas também são o fundamento. A
função de Jesus no fundamento da igreja é única. Ele é a pedra angular. A pedra
angular é apenas uma parte do fundamento. Se Jesus é a pedra angular do
alicerce ele não é todo fundamento. Como vimos, as doutrinas básicas também
fazem parte do fundamento da igreja. Jesus tem uma função específica e única no
fundamento, mas não exclusiva. Além de Jesus, os ensinamentos que partem dele,
da pedra angular, também fazem parte do fundamento. Da mesma forma, os
apóstolos e profetas que também partem dele igualmente fazem parte do
fundamento da igreja. A Palavra de Deus diz: “edificados sobre o fundamento dos
apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef
2:20). Uma das poucas vezes que Jesus falou a respeito da igreja ele afirmou ao
apóstolo Pedro: “eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja” (Mt 16:18). Temos aqui dois entendimentos:
Os próprios apóstolos e profetas são o fundamentos. No livro de
Apocalipse o apóstolo João nos fala a respeito da nova Jerusalém: “a muralha
da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os
doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro” (Ap 21:14).
Além de Jesus especificamente dizer que sobre Pedro (literalmente pedra, rocha)
seria edificada a igreja, também no livro de Apocalipse nos é exemplificado que
o fundamento da muralha da nova Jerusalém tinha o nome dos 12 apóstolos do
Cordeiro. O significado dos apóstolos e profetas serem o fundamento está em que
eles são as estruturas fortes da igreja visível que sustentam no cotidiano a
sua força, estatura, expansão e caráter.
Os ensinamentos apostólicos são o fundamento. O apóstolo Paulo
escreveu: “segundo a graça de Deus que me foi dada, lancei o fundamentocomo
prudente construtor; e outro edifica sobre ele.” Paulo estabeleceu
ensinamentos como fundamento para que outros edifiquem sobre estas bases. Os
ensinamentos apostólicos também faziam parte do fundamento da igreja primitiva.
Conforme havíamos visto nas edições anteriores, Jesus é a pedra angular do
fundamento da igreja de onde parte todo edifício (I Co 3:11, Ef 2:20, I Pe
2:7). As doutrinas básicas (Hb 6:1-2) e as pessoas e ensinamentos dos apóstolos
e profetas (Ef 2:20), que tem origem na própria pessoa de Jesus que é a pedra
angular, também são parte do fundamento da igreja. A pessoa de Jesus e as
doutrinas básicas é algo claramente entendido e aceito na igreja, porém o
entendimento de que os apóstolos e profetas com seus ensinamentos também fazem
parte do fundamento da igreja é algo novo. Com base neste entendimento está
toda compreensão bíblica daquilo que chamamos hoje de “cobertura espiritual”.
Por isso vamos nos deter mais pormenorizadamente neste ponto.
Apóstolos e Profetas como Fundamento da Igreja
Observemos o que o apóstolo Paulo escreve em sua carta aos Romanos:
"esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho, não onde Cristo já
fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio" (Rm
15:20). Através deste texto podemos entender algumas coisas que nos ajudarão a
compreender a respeito do que significa o fundamento apostólico.
Primeiro, através deste texto entendemos que havia diferentes fundamentos. Paulo
fala de um fundamento alheio, ou seja, um fundamento que não pertencia a ele,
um fundamento de outro apóstolo e/ou profeta (pois eram os apóstolos e/ou
profetas que estabeleciam fundamentos na igreja conforme Ef 2:20).
Entendemos então que na igreja primitiva havia o fundamento de Paulo e o
fundamento de outros apóstolos e profetas, ou seja, havia muitos fundamentos
apostólico-proféticos.
Segundo, este fundamento, diferente do de Paulo, também era cristão, uma vez
que provinha da pregação do evangelho.
Terceiro, Paulo não escreveu que este fundamento alheio ao dele tinha algo de
errado. Pelo contrário. Ele dava liberdade para continuar a se expandir
livremente onde havia sido estabelecido, sem fazer nenhuma advertência ou
objeção. Além disto, ele se sentia confortável que o evangelho estivesse sendo
pregado daquela forma naquele lugar ao ponto de não permanecer naquele
território, partindo para outros lugares onde o evangelho ainda não havia sido
pregado. Se houvesse alguma coisa errada, ele certamente faria alguma
advertência, tentaria colocar as coisas em ordem ou permaneceria naquele lugar
para pregar seu fundamento (se considerasse que o fundamento que ele pregava
fosse o único correto e aceitável).
Através deste texto entendemos que havia alguma diferença ente um
apóstolo e outro no que tange ao que pregavam. Não eram diferenças que
comprometiam o puro evangelho, a fé ou as doutrinas bíblicas, porém eram
diferenças individuais que diferenciavam um apóstolo de outro. Diante disto,
surge a pergunta: o que são estes fundamentos apostólico-proféticos? Antes de
explicar o que são os fundamentos apostólico-proféticos, gostaria de explicar o
que eles não são:
1. O fundamento apostólico-profético não é uma nova doutrina que venha
complementar ou substituir as Escrituras. Aquilo que foi estabelecido no canon
bíblico é insubstituível e completo. Ninguém poderá acrescentar ou tirar nada.
“Se alguém lhes fizer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos
escritos neste livro; e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro
desta profecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e
das coisas que se acham escritas neste livro” (Ap 22:18-19).
2. O fundamento apostólico profético não é uma nova invenção baseada em
alguma elucidação humana (II Pe 1:20). Ou seja, não é algo que saiu do nada,
sem base nenhuma e que leva a alguma lugar diferente daquele que as Escrituras
nos levam.
Aquilo que outros apóstolos pregavam e que era diferente, mas aceitável,
comparando-se àquilo que Paulo pregava, é o que chamo de “ensinamentos
apostólicos”. O que, então, são estes ensinamentos apostólicos que fazem
parte do fundamento da igreja, que diferenciava de um apóstolo de outro na
igreja primitiva?
Para introduzir esta questão quero dar um pequeno exemplo: veja a
diferença das estratégias da igreja de Jerusalém e da igreja de Antioquia. Eram
completamente diferentes. Estavam sendo edificadas sobre algumas premissas
radicalmente distintas. Tinham bases de entendimento diversas. Tinham alguma
parte do fundamento diferenciado uma da outra. Nisto percebemos que existiam
diferenças nos fundamentos que determinavam a forma diferenciada de como
trabalhavam. Este será o tema da próxima edição.
A Missão, os Princípios e a Visão da Igreja
Nas Escrituras Deus nos deixou revelado, entre tantas outras coisas,
qual "a missão" da igreja, ou seja, "o que"
sua igreja deveria fazer. A missão representa "a razão da sua
existência". A missão confere à igreja a sua verdadeira identidade e
propósito. A missão da igreja determina porquê a igreja existe.
Muitos pastores dizem que a visão de sua Igreja é alcançar os perdidos e
discipulá-los e enviá-los. Esta não é a visão de nenhuma
Igreja. Esta é amissão de todas as Igrejas. Nenhuma Igreja pode ter
uma missão muito diferente desta, pois se assim fosse não seria uma igreja
bíblica. Isto é o que as Escrituras dizem ser a missão de todas as Igrejas e
não de uma igreja especificamente.
Além das Escrituras terem registrado a missão da igreja, Deus também nos
deixou registrado os "princípios" em como cumprirmos com esta
missão. Ele não nos deixou registrado especificamente o "como"
cumprirmos com a missão, mas sim os "princípios" em como
cumprirmos com a missão. Se Ele tivesse estabelecido os "comos"
especificamente, talvez estivéssemos nos reunindo em catacumbas e nunca
teríamos entrado nos meios de comunicação da atualidade.
Para exemplificar. A comunhão é um princípio, porém como praticamos a
comunhão muda de geração em geração. A oração é um princípio, porém como oramos
muda de uma cultura para outra.
Os "princípios" não mudam com o tempo ou com as novas
tecnologias disponíveis. Porém, "como" especificamente aplicamos
estes princípios nas diversas épocas e culturas, muda consideravelmente. Os
princípios devem ser contextualizados dentro da cultura e dos recursos
disponíveis e aplicados de acordo com a situação. O "como"
aplicamos os princípios da Palavra na cultura e tempo que vivemos é o que
chamamos atualmente de "visão".
A “visão” de trabalho é baseada nos princípios estabelecidos desde a
antiguidade no cânon bíblico e é tarefa dos apóstolos fundacionais da
atualidade trazer esta visão para igreja. A visão de trabalho é o fundamento
sobre o qual as igrejas apostólicas trabalham.
A Visão Procede de Revelação e Entendimento
Pedro recebeu revelação dos céus que Jesus era o Cristo, o Filho de
Deus. Jesus disse que sobre esta rocha (a revelação e entendimento de Jesus
Cristo como Filho de Deus), Ele edificaria sua igreja (Mt 16:18).
A igreja é edificada sobre a rocha da revelação e entendimento.
Revelação e entendimento é o fundamento sobre a qual a igreja é estabelecida. Sem
revelação apostólica, a igreja não pode ser edificada corretamente.
Diferentes apóstolos são enviados a pregarem diferentes revelações.
Existem apóstolos de fé, libertação, prosperidade, etc. Também existem
apóstolos que estabelecem uma visão prática de trabalho sobre a qual a igreja é
estabelecida. Mesmo que hajam diferentes mensagens reveladas para diferentes
apóstolos, estas revelações são fundacionais. A mensagem do apóstolo estabelece
um forte fundamento sobre o qual os santos devem alicerçar suas vidas e a
igreja deve ser edificada.
A Verdadeira Cobertura Espiritual
Finalizando. Dar cobertura espiritual a alguém ou a uma igreja é
estabelecer os fundamentos sobre os quais estas pessoas ou igrejas são
edificadas. Estar debaixo de cobertura é andar na visão estabelecida pelo
apóstolo. Quem não está edificando sobre a revelação e entendimento apostólico
(visão apostólica), está fora de cobertura espiritual.
Ap.Patrick Lima